Ninguém consegue sobreviver sem a internet. O mundo digital faz parte do nosso DNA. Pense-se na vantagem do PIX, que permite fazer transferência de dinheiro sem ter de ir ao banco. Ficamos liberados dos talões de cheque. Das filas intermináveis. Da burocracia.
O celular permite conversas entre pessoas que estão distanciadas pelo oceano. Mandar recados por WhatsApp simplifica a comunicação. É possível conversar ao vivo com familiares e amigos. Facilitou a vida. Não adianta fugir dos algoritmos. Eles estão ao nosso encalço. Queiramos ou não.
As gerações nativas, que já são algorítmicas, tiram de letra os usos que proliferam a cada dia. A Inteligência Artificial faz milagres. Pessoas vivas e mortas falam com sua própria voz, se movimentam e se interrelacionam com outras. Tudo é mágico e incrível.
Os analógicos podem ter maior dificuldade para assimilar as novidades. Mas nada que uma criança, geralmente o neto, para quem tem a sorte de possuir ao menos um, deixe de resolver. Quem nasceu na era digital acha tudo fácil e descomplicado.
Pois agora os idosos também poderão mergulhar nessa viagem surpreendente. A eles também é dado incluírem-se nessa aventura digital, fortalecer laços afetivos, arem informações e frequentarem as melhores bibliotecas do mundo. Tudo porque o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação – ICMC da USP, oferece curso de Informática para a Terceira Idade. É uma iniciativa destinada a atender pessoas a partir de sessenta anos – a idade legal para alguém se considerar idoso – desejosas de aprender a utilizar o computador e a internet em sua rotina.
Essa ideia pode ser replicada em outras escolas, desde que haja interesse das diretorias responsáveis. A melhor e maior Universidade brasileira tem investido com vigor e devotamento à elaboração de normas para criação de aplicativos e de plataformas que facilitem o o de idosos às novas tecnologias. É uma forma adequada de “não deixar ninguém para trás”, principalmente porque estamos num País cujo número de celulares supera o de habitantes. Ou seja: há pessoas que possuem mais do que um – ou até vários – celulares.
Além de ensinar noções básicas sobre o uso do computador, o curso estimula o público idoso a navegar com segurança na internet, a criar e a gerenciar contas de e-mail e a compreender o básico em termos de noções de segurança digital para evitar golpes que, infelizmente, ocorrem com crescente frequência.
A experiência da USP tem várias finalidades convergentes. Além de estimular a terceira idade a participar ativamente da vida social, comunicando-se com familiares e com amigos, possibilitará aos monitores um valioso exercício de convívio com outra geração. É um projeto extensionista que viabilizará à juventude aprender com os mais velhos e a praticar didática e oratória.
Para os universitários, exige-se agora ao menos dez por cento de atividades de extensão, calculados sobre a duração integral do currículo. Excelente oportunidade para a troca de experiências intergeracional, pois a geração Z tem muito a ensinar à geração analógica e a recíproca é verdadeira.
O Brasil já não é o país do futuro, em termos de população jovem. A densidade demográfica se reduz drasticamente. Logo seremos um país de idosos. É importante que a juventude tenha contato com a idade que dentro em pouco ela terá. E aproveitar o lado bom da internet, das redes sociais, do o ao conhecimento acumulado no mundo web, fará bem a todos.
Exemplo a ser seguido por todas as escolas, a partir da excelente proposta da USP.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo ([email protected])