OPINIÃO

A ciência resolve


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A educação brasileira precisa acordar e produzir soluções para os problemas que as cidades enfrentam. Se 85% da população nacional habita as cidades, é nestas que as pessoas sofrem com falta de água, de saneamento básico, de moradia, de saúde, de educação e de trabalho. Sem falar em questões como a mobilidade, o lazer, o esporte, a cultura. Grande parte de nossos irmãos ainda enfrenta fome, o que é inissível num país que se arroga a condição de “celeiro do mundo”.

Em lugar de fazer as crianças decorarem informações muitas vezes inúteis, pois de nada servirão para a rotina e a vida prática, é preciso fazê-las pensar em resolver problemas concretos. A criatividade infantil produz mágicas, quando estimulada a deixar o “decoreba” de lado. O ensino médio, que registra a maior evasão da escola, não estimula o educando a usar sua imaginação. Hoje, na era web, os celulares contêm todas as informações necessárias e o acervo de dados disponível e ível a qualquer detentor dessas bugigangas eletrônicas é incomparavelmente mais sedutor do que as aulas expositivas tradicionais.

E a Universidade então? Os TCCs – Trabalhos de Conclusão de Curso, precisam focar em soluções concretas para desafios reais. Teorização, mais do mesmo, retórica, isso desalenta quem não se conforma com a situação miserável de tantas questões nacionais que parecem insolúveis.

Há exceções no ensino universitário. Um deles é o que acontece na FAU-USP, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da maior e melhor Universidade brasileira. A Professora Denise Duarte desenvolve projetos de resiliência e adaptação à mudança do clima. A partir do avanço das pesquisas conjuntas de Soluções Baseadas na Natureza, oferece propostas para cidades que guardem alguma semelhança, no caso São Paulo e Pequim.

É um ambicioso projeto interdisciplinar, que envolve Arquitetura e Urbanismo, Meteorologia e Ecologia Urbana, com parceiros chineses e brasileiros. Pesquisadores dessas áreas formaram equipes que se encontraram presencialmente para intercâmbio das pesquisas em andamento e discussões do progresso alcançado sobre resiliência e adaptação às mudanças climáticas. As soluções baseadas na natureza são respostas racionais e que nem sempre foram observadas com a objetividade que merecem.

Os urbanistas é que podem testemunhar com propriedade a evolução ou involução da ocupação do território das cidades. As construções coloniais já adotavam soluções de acordo com a natureza, principalmente em relação à ventilação natural. Também com a reserva de espaços fronteiriços para jardins e terreno posterior para hortas e pomares.
Um país de dimensão continental não precisaria exaurir o solo como se tem feito nos municípios brasileiros. Desapareceram os jardins domésticos, assim como as hortas e pomares. As cidades são impermeabilizadas, construídas prioritariamente para os automóveis e não para as pessoas.

O uso da madeira, que é comum nos países mais desenvolvidos, aqui infelizmente ainda tateia. O país de maior biodiversidade planetária teria respostas muito mais resilientes para a construção civil do que os grandes caixotões de concreto, aço e vidro espelhado. Verdadeiras saunas, que dependem de climatização artificial, baseada em energia cada vez mais dispendiosa.

Enfim, o bom exemplo da FAU merece atenção de todas as demais Universidades e institutos de ensino superior brasileiro. As cidades precisam ser resilientes, senão será impossível garantir vida de qualidade para as futuras gerações. E as atuais são responsáveis pelo ambiente saudável daqueles que sequer nasceram. É a vontade do constituinte de 1988, explicitada no artigo 225 da Constituição da República.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo ([email protected])

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