O tempo de mitigação e atenuação para minimizar os efeitos dos fenômenos climáticos extremos já ou. Agora é hora de adaptar as cidades para que elas sejam resilientes. E é obrigação de toda a cidadania zelar para que o território em que se mora e no qual se vive, seja um espaço acolhedor. Que e as intempéries e as ondas de calor e nele não se percam vidas preciosas.
Toda a população tem não só o direito, mas o dever de pensar em planos de arborização da cidade. A cobertura vegetal é importantíssima para que as temperaturas não sejam letais, mas conformes com as necessidades humanas.
Além de plantar mais árvores, o Poder Público tem de garantir a manutenção e a conservação das áreas verdes. Inclusive com a formação especializada de pessoal técnico responsável e competente. As funções de coleta de sementes, de plantio de mudas, de jardinagem e de zeladoria do verde são aquelas que a IA – Inteligência Artificial não substituirá. Continuam a ser missão de seres humanos. Que precisam ganhar bem, para se dedicar às tarefas das quais depende a sobrevivência da espécie.
As áreas mais vulneráveis são aquelas que mais precisam de árvores. Não de meras gramíneas, mas de espécies taludas, resistentes, apropriadas para reter a terra, evitar a erosão e garantir sombra saudável, que reduz as temperaturas. As ondas de calor, repita-se, matam mais do que as ondas de frio. É também relevante fazer com que a comunidade participe da tomada de decisões sobre a arborização da cidade.
Outra providência essencial é adotar estratégias inteligentes para a política nacional de resíduos sólidos. Ela já está contida na Lei 12.305/2010. Mas cada município deve minudenciar as características locais e tratar do assunto com a seriedade que ele merece. Os resíduos são abundantes em países de desenvolvimento retardado, como o Brasil. Enquanto no restante do planeta a reciclagem chega a 90% dos resíduos, aqui é mínimo o aproveitamento daquilo que se descarta em excesso e numa escancarada prova de ignorância: desperdiça-se o que tem valor e que poderia entrar na economia circular, na logística reversa e gerar renda para uma população hoje dependente da informalidade.
É urgente a adoção de projetos de educação socioambiental e a conscientização sobre a adequada gestão dos resíduos sólidos. Isso depende exclusivamente da população. Quem não compra a mais do que aquilo de que necessita, que não desperdiça e sabe descartar de acordo com a destinação residual, mostra uma educação de qualidade.
Outras providências dependem de coragem e de audácia. Remover aquela ocupação que está em lugares impróprios. Quem a a construir à margem de rios e córregos, sabe que está sujeito a inundações. Quem ocupa encostas íngremes não pode ignorar que chuvas torrenciais causarão desmoronamento, deslizamento de terra e mortes que poderiam ser evitadas.
Pensar seriamente nessas questões é obrigação de todos. As crianças devem ser alertadas, desde a mais tenra infância, de que algumas providências singelas podem salvar vidas. Os professores precisam ter formação específica para que a educação ambiental não seja um assunto negligenciado, ou mera disciplina episódica, mas seja preocupação constante, em todas as aulas, em todas as matérias e com eventos específicos voltados ao esclarecimento e à advertência de todos. Ninguém está imune às consequências de eventos climáticos que não são naturais. São provocados por nossa insensata malvadeza ao esgotarmos os recursos naturais e não nos preocuparmos com a restauração do ambiente lesado.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo ([email protected])