
A crise na rede pública de saúde de Campinas atingiu níveis críticos mais cedo do que o esperado. O colapso de atendimento do Hospital da PUC-Campinas e do HC da Unicamp escancara a dura realidade: não há um novo hospital e nem mesmo os leitos prometidos pelo governo estadual. Enquanto a população sofre com superlotações e atendimentos à beira do colapso, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue rejeitando a construção de um Hospital Metropolitano para a RMC, insistindo que a prioridade é a ampliação de leitos. Faz enorme sentido, mas é algo que até agora também não saiu do papel de maneira a resolver o problema.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
Essa crise não é novidade. Nos últimos anos, a situação tem se repetido, normalmente atingindo seu auge entre abril e maio, com o aumento das doenças respiratórias. Mas agora, o sistema já está à beira do colapso em março, o que pode indicar que o pior ainda está por vir. Se o governador insiste que um novo hospital não é viável, então onde estão os leitos que ele prometeu? Nem hospital, nem leitos, nem resposta concreta. O que resta é a superlotação e o caos no atendimento.
Agora, a responsabilidade política também recai sobre o prefeito Dário Saadi (Republicanos). Ele buscou a presidência do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Campinas, um posto que carrega a missão de representar os 20 municípios da região. Até aqui, o tom dos prefeitos em relação ao governo estadual tem sido de exaltação exagerada, mas diante do colapso da saúde, é hora de mudar o discurso e partir para a cobrança firme.
Se Dário quer justificar sua posição como líder da RMC, precisa pressionar o governo estadual para que as medidas anunciadas saiam do discurso e se tornem realidade. A Região Metropolitana de Campinas não pode continuar como um problema ignorado pelo Palácio dos Bandeirantes.
A omissão de Tarcísio neste tema precisa ser questionada. A população não pode ficar à mercê de um sistema sobrecarregado, enquanto o governo do estado enrola com promessas vazias. Se não há hospital e também não há leitos, qual é exatamente a solução? Até agora, o governo estadual não apresentou resposta concreta – apenas adiou um problema que já explodiu.
O colapso já está aqui. E a pergunta que fica é: quando o governador vai começar a tratar a saúde da RMC com a seriedade que ela exige?
Fim da gestão da Unicamp no Hospital Estadual de Sumaré
Se a crise na saúde da Região Metropolitana de Campinas já era alarmante, a decisão do governo estadual de não renovar o convênio da Unicamp com o Hospital Estadual de Sumaré (HES) adiciona um novo fator de preocupação. A notícia de que a Secretaria Estadual da Saúde pretende abrir um chamamento público para entregar a gestão do hospital a uma organização social (OS) levanta questionamentos sobre o futuro do atendimento, a qualidade da formação médica e a segurança dos mais de 2 mil funcionários da unidade.
O HES não é um hospital qualquer. Ele é referência regional, com atendimento de alta complexidade e um dos principais campos de estágio e residência médica da Unicamp. Romper esse vínculo não é apenas trocar o gestor, mas alterar profundamente o modelo de funcionamento da unidade, sem garantias de que uma OS manterá o mesmo nível de qualidade e compromisso acadêmico que a universidade consolidou ao longo dos anos.
A justificativa do governo estadual de substituir a Unicamp por uma OS precisa ser debatida com transparência. Como se dará essa transição? Haverá perda de serviços? Os funcionários serão mantidos? O hospital continuará sendo um polo de ensino médico de referência? Sem respostas claras, o temor da descontinuidade de um modelo que funciona é legítimo.
Agora, ao invés de fortalecer a rede existente, o governo cria mais uma instabilidade ao mexer na gestão do HES, um hospital que cumpre um papel essencial na saúde pública regional. A audiência pública na Câmara de Campinas marcada para terça-feira, dia 11 de março, será um momento crucial para que a sociedade civil, a Unicamp e os profissionais de saúde exijam garantias concretas sobre o futuro do hospital.
Não se trata de um debate ideológico, mas de uma discussão sobre eficiência e continuidade na prestação do serviço público de saúde. O que está em jogo não é apenas a troca da Unicamp por uma OS, mas a certeza de que a população não perderá um hospital estruturado e qualificado para cair em um modelo incerto e sem a mesma tradição na formação médica e no atendimento público.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].