POLÍTICA

Flávio Paradella: Segurança por conta própria

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Marco Massiarelli
Moradores de bairro de Campinas recorrem ao fechamento de ruas como alternativa à insegurança crescente, expondo abismo entre discursos oficiais e a realidade.
Moradores de bairro de Campinas recorrem ao fechamento de ruas como alternativa à insegurança crescente, expondo abismo entre discursos oficiais e a realidade.

A instalação de portões e o controle de o noturno nas ruas do Jardim Paraíso, em Campinas, é um símbolo da deterioração da confiança da população na capacidade do estado em garantir segurança pública. O projeto, conduzido pela Sociedade Amigos do Bairro Alto do Paraíso (SABALPA) e aprovado pela prefeitura, reflete uma medida desesperada frente à sensação de insegurança que permeia a rotina dos cidadãos.

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Apesar de os índices oficiais de criminalidade divulgados pelo governo do estado de São Paulo apontarem quedas, o sentimento de vulnerabilidade é persistente. Esse descomo entre estatísticas e a percepção popular questiona as prioridades e a eficácia da política de segurança conduzida pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Alinhado ao discurso conservador e de lei e ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governo estadual não conseguiu reverter a sensação de abandono da população.

No discurso, o governador Tarcísio de Freitas prometeu uma segurança pública eficiente e rigorosa, mas na prática, a violência policial tem se tornado uma marca de sua gestão. Casos recorrentes de abusos envolvendo agentes da força pública colocam o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, em constante defensiva, enquanto denúncias de violência institucional deslegitimam a capacidade do estado de oferecer proteção confiável à sociedade.

O fechamento de ruas, como ocorre no Jardim Paraíso, emerge como resposta direta ao que os moradores classificam como "última alternativa." O projeto, que regula o o a dez vias do bairro, busca conter o aumento de crimes noturnos. Mas sua implementação não é apenas uma barreira física; é, sobretudo, uma demonstração de que a população se sente abandonada pelo poder público.

O episódio escancara a falha do pacto social que deveria assegurar aos cidadãos a proteção básica do estado. Quando ruas são transformadas em espaços s, os impactos vão além do imediato aumento da sensação de segurança: revelam uma divisão social e a fragilidade das políticas públicas.

Ao mesmo tempo, iniciativas como a do Jardim Paraíso podem impulsionar a valorização imobiliária e atrair novos negócios, conforme sugerido pelo Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). Contudo, a exclusividade gerada por tais ações pode reforçar a segregação urbana, favorecendo regiões que têm capacidade organizacional e econômica para implementar medidas como essas, enquanto outras permanecem desamparadas.

A situação no Jardim Paraíso ilustra um problema mais amplo. A ausência de medidas eficazes para combater a criminalidade nas ruas contrasta com a insistência em uma retórica oficial que não se traduz em resultados tangíveis para a população.

Se por um lado, o governo Tarcísio promove narrativas de sucesso com base em estatísticas, por outro, bairros como o Jardim Paraíso optam por fechar suas ruas à noite, um testemunho irrefutável de que essa segurança não se reflete no cotidiano das pessoas.

Enquanto o estado não conseguir alinhar políticas públicas com a realidade enfrentada pelos cidadãos, a tendência será a proliferação de medidas como essas, em que a responsabilidade pela segurança é transferida para a população. Um ciclo perigoso, que apenas aprofunda as desigualdades e a sensação de abandono em São Paulo.

Vereador “retoma” projeto anti-funk

O vereador Nelson Hossri (PSD) apresentou à Câmara de Campinas uma versão revisada da chamada "lei anti-funk," que havia sido vetada pelo prefeito Dário Saadi no ano ado. Nomeado “Rede de Proteção,” o novo projeto mantém o objetivo de conscientizar alunos da rede municipal sobre músicas que promovam apologia ao crime, drogas e pornografia, com ações educativas, como palestras e campanhas,.

De acordo com o parlamentar, a proposta foi ajustada para atender aos princípios constitucionais e à gestão democrática da educação, após o veto anterior, que alegava desrespeito à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O prefeito argumentou que o texto original era fragmentado, descontextualizado e contrário aos princípios da liberdade e da centralidade do projeto pedagógico. Segundo Hossri, o novo projeto busca prevenir e orientar, garantindo respeito à liberdade de expressão, enquanto promove a proteção de crianças e adolescentes.

Sinceramente, o teor não parece tão diferente do anterior que foi repelido pelo prefeito.

Alerta amarelo

Após um ano marcado por recordes de casos de dengue, São Paulo enfrenta agora um novo alerta sanitário: o primeiro caso humano de febre amarela em 2025 foi confirmado pela Secretaria de Estado da Saúde. O paciente é um homem de 27 anos, morador da capital, que contraiu a doença após visitar uma área rural em Socorro, na região de Campinas.

Além disso, o Instituto Adolfo Lutz confirmou nove casos de febre amarela em macacos no interior paulista, incluindo dois na região de Campinas – em Pinhalzinho e Socorro. Esses casos funcionam como indicadores da circulação do vírus em áreas de mata, já que os primatas, assim como os humanos, são vítimas da doença e não transmissores.

A febre amarela é transmitida pela picada de mosquitos silvestres que vivem em áreas de mata. Embora esses vetores não habitem o ambiente urbano, a circulação do vírus em zonas rurais acende um alerta para as populações próximas. Autoridades de saúde intensificam campanhas de vacinação e monitoramento ambiental para evitar surtos.

O estado já registrou surtos significativos de febre amarela em anos anteriores, e a vacinação continua sendo a principal estratégia de prevenção. A imunização está disponível nos postos de saúde, especialmente para quem vive ou planeja viajar para áreas de risco.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].

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