29 de maio de 2025
ARTIGO

Está ruim, mas está bom 52691b


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“Está ruim, mas está bom” é uma expressão que contém a coexistência do bom e do ruim em um equilíbrio instável. Ela revela uma adaptação psicológica a circunstâncias adversas, onde o que é considerado bom não é o ideal, mas sim o que é possível ou aceitável dentro de limitações. O que é bom pode se manifestar em momentos de paz relativa, segurança mínima ou na sobrevivência em meio a dificuldades. O que é ruim, surge de restrições econômicas, injustiças sociais ou falta de perspectivas de mudança.A frase aparece quando as condições poderiam ser piores ou quando qualquer reação parece inútil ou arriscada. Ela expressa uma aceitação resignada, uma forma de consolo que valoriza o que é positivo, mesmo que o negativo prevaleça. Esse mecanismo de defesa psicológico evita o desespero, mas pode levar à complacência.A origem exata da expressão é incerta, mas ela parece ter raízes culturais profundas, especialmente em regiões onde as dificuldades são constantes e as pessoas aprenderam a valorizar pequenas vitórias ou a manter a esperança em cenários desafiadores. Comum no Brasil, essa expressão tem paralelos em outras culturas que enfrentam desafios semelhantes.Esse estado de consolo é mais aceito em sociedades onde o sofrimento é rotineiro e as expectativas são baixas. Essa resignação pode ser prejudicial quando impede o progresso, perpetuando ciclos de pobreza, injustiça e estagnação. O consolo e a resignação oferecem conforto imediato, mas podem inibir a busca por melhorias necessárias.A frase “tudo igual, mas muito melhor” reflete uma tentativa de ver o lado positivo em um cenário que essencialmente permanece o mesmo, mas que é interpretado de forma mais otimista. Isso pode ser visto como uma racionalização do “está ruim, mas está bom”, onde a melhora é percebida mais na atitude do que nas circunstâncias objetivas.Esse tema é genuíno porque reflete a realidade vivida por muitas pessoas que, diante da impossibilidade de mudar o contexto atual, encontram maneiras de se adaptar emocionalmente. “Deixar como está para ver como é que fica” pode ser colocada ao lado de “está ruim, mas está bom” como uma filosofia de vida que prioriza a manutenção da estabilidade, mesmo que precária, ao invés de arriscar mudanças incertas.Na política, o tema reflete a falta de esperança na capacidade dos líderes de promover mudanças significativas. “Tudo continua do mesmo jeito” ressoa em momentos de desilusão, quando a expectativa de melhorias é baixa. No entanto, sempre há esperança de que a condução dos problemas públicos possa melhorar, mesmo que essa esperança seja frágil.A globalização traz vantagens como o a novas tecnologias e ideias, mas também exige sacrifícios em termos de identidade cultural e soberania econômica. Esses sacrifícios podem aumentar o sentimento de que “está ruim, mas está bom”, ao criar novas desigualdades ou intensificar as já existentes.Se não estiver bom, reclamar pode ser uma forma de resistência, mas o impacto disso depende de quem ouve as reclamações e de quais ações podem ser tomadas. Em muitas situações, o consolo é itido como a única opção, o que levanta a questão de como romper esse ciclo.“Está ruim, mas pode ficar pior” é uma possibilidade realista que alimenta a aceitação do contexto atual, enquanto “está ruim, mas está bom” pode permanecer como uma expressão de adaptação, mas não necessariamente de progresso. “Está bom, mas vai ficar melhor” é a nossa esperança, uma expressão que, ao contrário de “está ruim, mas está bom”, carrega a promessa de que o futuro pode, e deve ser melhor do que o presente.Como fica a satisfação humana nesse contexto? Muitas vezes, ela é suprimida em favor da sobrevivência ou estabilidade. Substituída por uma aceitação resignada, a satisfação humana pode ser limitada, comprometendo o crescimento pessoal e coletivo. Para alcançar uma satisfação genuína, é necessário enfrentar desafios e buscar melhorias reais, tanto no presente quanto no futuro. A incerteza continua! 49133h

Walter Naime
Arquiteto-urbanista
Empresário.