
Em 2025, até o momento a Vara da Infância e Juventude de Jundiaí registrou sete adoções foram concretizadas, sendo cinco também por entrega voluntária e duas de crianças com 8 e 11 anos. Já em 2024, foram 14 adoções. Do total, oito foram de bebês entregues por meio do programa de entrega legal, quando a gestante opta voluntariamente por encaminhar o filho à adoção logo após o parto.
Entre os casos marcantes do último ano estão dois grupos de irmãos — um com três crianças de 3 a 8 anos e outro com dois, de 2 e 5 anos — adotados por famílias que aceitaram o desafio de manter os vínculos fraternos. Também foi acolhida uma criança de 7 anos que agora vive em família.
Mesmo com o avanço, a realidade da adoção ainda revela um grande desencontro entre o perfil das crianças disponíveis e as preferências da maioria dos pretendentes por conta da idade. Entre os casos marcantes do último ano estão dois grupos de irmãos — um com três crianças de 3 a 8 anos e outro com dois, de 2 e 5 anos — adotados por famílias que aceitaram o desafio de manter os vínculos fraternos. Também foi acolhida uma criança de 7 anos que agora vive em família.
Segundo o Sistema Nacional de Adoção (SNA), o estado de São Paulo conta com 1.137 crianças e adolescentes aptos para adoção e 8.154 pretendentes ativos. Embora os números sugiram um cenário positivo, a realidade é outra: muitos adotantes ainda idealizam um perfil específico: crianças pequenas, brancas e sem problemas de saúde.
“Essa disparidade faz com que crianças mais velhas, grupos de irmãos e aquelas com questões de saúde ou deficiência permaneçam por longos períodos em instituições de acolhimento, muitas vezes até completarem a maioridade sem terem vivido em família”, explica Viviana Eugênia, assistente social do Fórum de Jundiaí.
A história de Priscila Cordeiros e Gustavo Bauer, moradores de Jundiaí, reforça o quanto a decisão de adotar vai além da idealização de um perfil. O casal, que já tinha quatro filhos, decidiu em 2020 ampliar a família adotando dois adolescentes, um com 12 e outro com 14 anos. “Nosso coração dizia que ainda faltava alguém. Entramos na fila porque sempre quisemos ser pais por adoção, desde antes do casamento”, conta Priscila.
A adoção não é um ato de "escolha perfeita", como se fosse possível montar uma criança sob medida, como em um jogo de celular. Essa visão distorcida ainda está presente em parte dos pretendentes que buscam um perfil idealizado de filho. Mas a realidade é bem diferente. Cada criança ou adolescente disponível para adoção carrega consigo uma história de vida, muitas vezes marcada por perdas, negligência, abandono ou violências diversas. Vivências que deixam marcas emocionais e exigem da família adotiva empatia, paciência e compromisso.
A decisão de manter o perfil aberto para adoção partiu do desejo do Gustavo em acolher crianças maiores. “Toda adaptação tem desafios, seja com filhos biológicos ou adotivos. O segredo é o acolhimento. É isso que torna tudo viável”, diz Priscila. Com seis filhos, ela reconhece que a convivência exige paciência e escuta, mas acredita que a bagagem de cada um faz parte do processo de se construir uma família.
Essa bagagem inclui não só os traumas, mas também as qualidades, os afetos, a capacidade de resiliência e a esperança de pertencer a um lar. A assistente social Viviana Eugênia reforça que o acolhimento institucional prolongado pode comprometer o desenvolvimento emocional, educacional e social dessas crianças e adolescentes. “A adoção de crianças maiores não é apenas um ato de amor, mas uma estratégia concreta de cidadania e garantia de direitos.”
Atualmente, seguem abertas em Jundiaí as buscas por famílias para um grupo de irmãos de 11 e 4 anos, uma criança de 11 anos, três adolescentes — dois com 17 anos e um com 15 — e uma criança de 14 meses com demandas de saúde. Em paralelo, dois adolescentes de 13 e 17 anos estão em fase de aproximação com possíveis famílias adotivas, uma etapa fundamental na construção de vínculos antes da convivência definitiva.
É preciso entender que adoção não se trata de encontrar uma criança para satisfazer os desejos de uma família, mas sim de oferecer uma família que possa acolher com responsabilidade e afeto aquela criança real, com sua complexidade e singularidade.