OPINIÃO

A vida heroica mora nas pequenas atitudes


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Embora o mundo esteja sob o domínio dos cliques, vídeos e imagens, o sucesso da vida pessoal e profissional a inevitavelmente por ações e pela prática das soft skills. O impacto das competências como empatia, comunicação eficaz, resiliência, liderança, adaptabilidade reverberam diretamente na natureza das relações humanas. Esses pilares de convivência determinam, a partir de pequenas atitudes, a qualidade e protagonismo da jornada cotidiana de cada um de nós.

A exigência de parecer e aparecer tem prevalecido sobre o ser, trazendo, perigosamente consigo, um mundo construído por imagens, muitas vezes, sem o alicerce de valores que edificam e consolidam relações, bem como, sem vínculos duradouros. Muito se fala sobre a importância das soft skills, como reconhecer a dor ou necessidade do outro, aceitar o diferente, praticar a arte da “escutatória”, inspirar, ser ético, entre outras. Contraditoriamente, vê-se o aumento do egoísmo, da superficialidade, e da falta de profundidade nas conexões. Discursos sobre empatia e colaboração são abundantes, mas raramente se transformam em prática.

A premissa “o que eu não quero para mim, não faço para o outro”, foi esquecida ou deixada de lado. Na capacidade de enxergar verdadeiramente o outro, se relacionar com empatia, comunicar-se, adaptar-se e exercitar as competências humanas essenciais, mora a genuína jornada do heroi e é construída, por cada um, no seu dia a dia, com pequenas ações.

Diferentemente de um ado recente, a imagem de herois está associada ao universo das histórias em quadrinhos ou filmes. Antes a figura do heroi era frequentemente associada a grandes feitos, aventuras épicas ou eventos que mudam o destino do mundo, como Hércules, Teseu ou Odin, Thor. No entanto, a jornada do heroi, como descrita por Joseph Campbell em O Heroi de Mil Faces, é, acima de tudo, um modelo de transformação pessoal que pode acontecer a partir de pequenas atitudes ou na realização de pequenos projetos. A mudança é interna, como um estalo, uma ficha caindo, um flash que a pela mente e coração, transformando a si, como se enxerga o mundo ao redor e consequentemente com comportamentos que promovem relações mais saudáveis, maior bem-estar, comunidades mais conscientes e indivíduos mais protagonistas de suas histórias.

Coerência, maturidade e presença são características dos herois do cotidiano, que vão além do discurso e estão manifestadas no comportamento. Ser heroi hoje é, muitas vezes, contrariar a cultura do imediatismo, do ego inflado e da indiferença. É praticar o básico com verdade, respeito, escuta e empatia. A verdadeira aventura começa quando escolhemos, todos os dias, agir com consciência e humanidade.

Em um mundo que valoriza o desempenho individual acima da conexão humana, atuar com generosidade tornou-se um ato quase subversivo. Ser heroi é ter e reconhecer suas capacidades que estão a serviço do próximo e possibilitarão a resolução de problemas com consciência, reflexão, criatividade e sabedoria para o bem comum.

Reinterpretar a jornada do heroi à luz das soft skills e das pequenas atitudes revela uma verdade essencial: somos protagonistas das nossas histórias, e todos os dias, somos convidados a agir com mais consciência e humanidade.

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
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