Opinião

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Na última quinta-feira, 22 de junho, lideranças de 100 países reuniram-se em Paris para definir o Novo Pacto do Financiamento Global, um o importante para garantir recursos destinados às medidas de enfrentamento do desequilíbrio do clima. Para muitos de nós esse negócio parece tão distante do nosso dia a dia como a notícia do descobrimento de uma nova galáxia pela NASA, e não deixariam de ter razão: desde a festejada convenção Eco-92, no Rio de Janeiro, a primeira grande cúpula voltada para a questão das mudanças climáticas, muito se falou, alguma coisa se fez, todavia aquém do que seria minimamente necessário.

Até recentemente, não só as lideranças políticas, como a população de modo geral têm dado pouca importância à questão do desequilíbrio do clima e suas nefastas consequências - o filme "Não olhe para cima", de forma caricata, mas contundente, mostra isso - mas, com o óbvio agravamento nos sendo imposto pela realidade objetiva, essa atitude parece começar a dar uma guinada.

Talvez por isso essa cúpula de Paris pode surpreender e se mostrar efetiva. De qualquer maneira, já está assentada em uma diferença significativa: os recursos a serem destinados para financiar os projetos para combater o desequilíbrio do clima já estão alocados, ou seja: dinheiro tem. O que precisa agora é empregá-lo de forma eficiente.

Conforme noticiado pela Folha no artigo "Uma transição ecológica que não deixa ninguém para trás", de 21 de junho, em documento prévio à abertura do encontro, 12 líderes mundiais - vale a pena enumerá-los para que se tenha uma ideia do seu peso: Joseph Biden Jr., Presidente dos Estados Unidos; Emmanuel Macron, Presidente da França; Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul; Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia; Macky Sall, Presidente do Senegal; Olaf Scholz, Primeiro Ministro da Alemanha; Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu; William Ruto, Presidente do Quênia; Rishi Sunak, Primeiro Ministro do Reino Unido; Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil; Mia Mottley, Primeira Ministra de Barbados e Fumio Kishida, Primeiro Ministro do Japão - apresentaram, de forma que poderíamos classificar como, se não revolucionária, inovadora, os objetivos da Cúpula.

Na declaração - uma síntese sucinta dos os iniciais que precisamos tomar para assegurar a nossos filhos e netos a herança de um mundo menos hostil - que apresenta ainda a defesa do desenvolvimento inclusivo e sustentável, as nações signatárias se comprometem a investir US$100 bilhões por ano, já alocados, nos países mais necessitados e, ainda, a agir no sentido de sensibilizar o  capital privado - que, de resto já tem atrelado a liberação de seus investimentos, da ordem de trilhões de dólares a causas ambientais, conforme mencionei no meu recente artigo "O Brasil pode vencer essa rodada".

Os signatários se comprometem a orientar seus bancos nacionais de desenvolvimento a criar um ecossistema em estreita colaboração com demais agências públicas e fundos verticais nacionalizados e filantropos, fundos soberanos, finanças privadas e sociedade civil, objetivando obter o melhor pacto possível.

Além de almejar a eliminação da pobreza crônica, os países que assinam essa declaração se comprometem a trabalhar para a mitigação das alterações climáticas procurando "reduzir o custo do capital para o desenvolvimento sustentável, inclusive por meio da transição ecológica nas economias emergentes e em desenvolvimento".

Essa última referência vai ao encontro do interesse brasileiro na medida em que,  pela qualidade da nossa matriz energética, majoritariamente assentada em fontes renováveis  - hidrelétricas e, crescentemente, eólicas e solares -, e dos nossos ecossistemas, com imensas áreas de florestas e outros biomas capazes de sequestrar massivamente o carbono, o Brasil é, de longe, a nação que melhor poderá se beneficiar nesse novo cenário, conforme têm demonstrado pesquisadores como Jorge Caldeira e especialistas em economia como Cândido Bracher, em artigos recentes na mídia nacional.

Até pouco tempo, tendo em vista o descaso como a questão do desequilíbrio do clima vinha sendo tratada, havia uma certa indiferença com relação àqueles que procuravam nos alertar a respeito. Hoje, com os efeitos catastróficos desse desequilíbrio diariamente noticiado pela mídia, o ceticismo vem se rendendo à realidade objetiva

A cada dia fica mais claro que essa é uma causa de todos, que estamos lutando pelo futuro dos nossos filhos e dos nossos netos.

 

Miguel Haddad é advogado, foi deputado e prefeito de Jundiaí ([email protected]

Comentários

1 Comentários

  • Helio Madaschi 25/06/2023
    Dr. Muguel semore com comentarios de forma ponderada, clara e objetiva