A Prefeitura de Campinas está provando do próprio veneno. Ao insistir na aprovação dos supersalários para diretores de autarquias, criou um cenário onde qualquer negociação financeira sensível a a ser medida por essa régua. O episódio mais recente dessa armadilha autoimposta envolve o ime com o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, um dos principais braços da saúde mental da cidade. 6o3z5k
A manifestação que tomou conta da Câmara nesta segunda-feira (2), com cerca de 200 pessoas — entre usuários, trabalhadores e familiares —, escancarou o tamanho do problema. O contrato foi prorrogado por decisão judicial, mas com valor aquém do necessário, de acordo com a entidade, para manter a operação plena: R$ 6,2 milhões mensais, contra os R$ 7,4 milhões solicitados pelo Cândido.
A prefeitura, por sua vez, diz que já houve reajuste de 3,29% e que o plano do Cândido apresentava inconsistências. Também bate na tecla de que investiu mais que o mínimo constitucional em saúde — R$ 663,7 milhões de janeiro a abril. Mas o debate já não gira apenas em torno dos números. Gira, também, em torno da credibilidade política e da priorização dos recursos.
O que se vê, tanto nesse caso quanto na negociação salarial com servidores, é que a istração Dário Saadi (Republicanos) ficou refém da própria escolha política. Ao insistir em bancar reajustes vultosos para os cargos de confiança nas autarquias, perdeu o discurso da austeridade. E agora tem que engolir seco quando ouve que para supersalários teve dinheiro, mas para saúde mental não.
O Cândido Ferreira presta um serviço que não é substituível da noite para o dia. Sua rede sustenta a ponta de um sistema fragilizado, que atende mais de 5,4 mil pessoas e lida com alta complexidade social e clínica.
A decisão judicial manteve o contrato por 180 dias, mas não resolveu o ime. Só o empurrou para frente, como tantas vezes se faz. A conta da incoerência política, como se vê, sempre chega. E, neste caso, quem paga pode ser o elo mais frágil da rede.
Divulgação/PMC
Terminou sem cumprimento o prazo estabelecido pela Prefeitura de Campinas para a entrega dos 50 novos ônibus que deveriam reforçar a frota do transporte público. Anunciada em 1º de abril — data que hoje parece profética, dado o desfecho — a promessa do prefeito Dário Saadi (Republicanos) era de que os veículos estariam rodando até o fim de maio. Mas, até esta segunda-feira (2), apenas 25 coletivos entraram efetivamente em operação, segundo a Emdec.
Outros cinco ônibus devem ser liberados até sexta-feira (6). O restante — 20 veículos — ainda está em fase de regularização documental, pintura, adesivagem, revisão técnica e inspeção. A Prefeitura afirma que todos os veículos terão ar-condicionado e entradas USB para carregamento de celulares, mas a modernização segue lenta para um sistema que opera sob pressão e espera há anos por uma nova licitação.
A aquisição foi anunciada como medida paliativa para amenizar a precariedade do sistema até a conclusão da nova concessão do transporte coletivo. Porém, a morosidade na entrega de uma frota reduzida — apenas 50 ônibus em um universo de quase mil — reforça a percepção de que a gestão municipal não consegue avançar nem em pequenas metas.
Além da falha operacional, o caso também expõe a fragilidade política do discurso da Prefeitura. O fato de a promessa ter sido feita justamente no 1º de abril adiciona uma carga simbólica de ironia difícil de ignorar.