
A escolha do cardeal norte-americano Robert Prevost como Papa Leão XIV simboliza mais do que uma renovação geracional no comando da Igreja Católica: é uma tentativa clara de reafirmar, logo de início, os valores fundamentais da instituição em um planeta assolado por guerras, polarização e autoritarismo. Sua primeira fala como papa, com ênfase na Paz, não poderia ser mais simbólica — nem mais necessária.
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Num momento em que o mundo vive dois conflitos abertos de escala global, com a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda longe de um desfecho e o sangrento confronto entre Israel e Palestina agravando a instabilidade do Oriente Médio, a palavra "Paz" ganha novo peso. Mais do que um clichê papal, o termo carrega urgência. A escolha da diplomacia como prioridade — como sinalizou Leão XIV — é um gesto com forte dimensão geopolítica, que se contrapõe ao atual clima internacional, onde líderes que brandam “democracia”, mas flertam com facínoras autocratas e atropelam princípios básicos de convivência civilizada.
O novo papa também sinaliza continuidade com as reformas de Francisco, reforçando temas como justiça social, sinodalidade, meio ambiente e acolhimento. Leão XIV tem um perfil pastoral e missionário, moldado especialmente em sua longa atuação no Peru, onde foi bispo de Chiclayo. Ou seja, não é um clérigo moldado pelos corredores do Vaticano, mas sim pelas realidades da América Latina, o que pode indicar sensibilidade maior com as desigualdades do Sul Global.
Nesse contexto, Campinas entra com uma curiosa e afetiva coincidência histórica. Em 2008, Prevost celebrou missa na Paróquia Santo Antônio, na Ponte Preta, quando ainda era o superior dos agostinianos. Este episódio, simbólico, liga o novo pontífice diretamente à comunidade católica campineira, que agora se vê representada — ainda que brevemente — na jornada de um papa que hoje guia 1,3 bilhão de fiéis ao redor do mundo.
A eleição de um norte-americano, em tempos de transição e reconfiguração global, é um gesto ousado do colégio cardinalício, mas a escolha de um nome como Leão XIV, com trajetória pastoral e de escuta, sugere que a Igreja deseja seguir firme no caminho iniciado por Francisco, mas com uma voz que possa ter peso simbólico também diante das potências seculares.
Em um mundo esfacelado entre extremismos, o retorno ao centro — moral, espiritual e político — talvez só possa mesmo vir de Roma. E se depender do novo pontífice, esse centro terá como base o clamor mais universal de todos: a paz.
Aprovado com Desgaste
Depois de meses de idas e vindas, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) finalmente conseguiu aprovar o reajuste dos salários dos presidentes de autarquias municipais, encerrando uma das mais arrastadas e desgastantes novelas políticas desse curto segundo mandato. O placar final foi construído com esforço, articulação e paciência — num processo que expôs a resistência da oposição, o constrangimento da base aliada e a exaustão da própria Câmara.
Seis sessões extraordinárias consecutivas, mais de cinco horas de discussões, discursos repetitivos, obstruções regimentais e troca de farpas marcaram o cenário, em que tudo já estava decidido, mas ninguém queria assumir facilmente o ônus. No fim, ou. Mas deixou arranhões.
A aprovação do reajuste — que eleva os salários dos presidentes da Rede Mário Gatti, Camprev e Fundação José Pedro de Oliveira para R$ 37.082,36, com efeito retroativo a janeiro — representa a vitória de uma tese antiga do governo: equiparar os dirigentes das autarquias ao primeiro escalão do Executivo
Esta foi a quarta tentativa de votação, frustrada antes por erro jurídico (formato de lei ordinária) e por obstruções da oposição e até uma falta de vontade da base. Ao insistir em retomar o tema mesmo com a resistência pública, o governo Dário demonstra força numérica, mas também evidencia um certo grau de insensibilidade política e erro de timing. Afinal, discutir supersalários no setor público em um momento de crise na saúde e transporte deteriorado não a impune.
A base cumpriu o script. Mas os embates infantis, a hipocrisia dos discursos e a tentativa de justificar o injustificável cobraram um preço: mais um episódio de descolamento entre o legislativo, o Executivo e a realidade das ruas. O governo venceu — mas a a istrar a fatura do desgaste.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].