
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) recuou mais uma vez. Agora, foi a vez da proposta de vender parte da Fazenda Santa Elisa, uma área de 690 hectares do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e um dos mais relevantes bancos genéticos de café do país. A desistência foi anunciada publicamente na Agrishow, em Ribeirão Preto, e marca mais um o atrás do governo estadual em decisões que causaram forte reação pública.
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O movimento de Tarcísio não é exatamente surpreendente. A ideia da venda foi ventilada no ano ado, com a Secretaria de Agricultura reconhecendo a realização de estudos para avaliar a alienação parcial da área. A resposta foi imediata: pesquisadores, representantes do agronegócio, políticos e entidades científicas se uniram contra a proposta, alertando para os impactos sobre a pesquisa agrícola brasileira.
O governador tentou justificar a reversão: destacou que a pesquisa moderna consome menos espaço físico e que há ampliação das parcerias privadas. Ainda assim, o simbolismo da área e a função estratégica do IAC falaram mais alto. Em outras palavras, o custo político da venda seria alto demais – e não vale a pena neste momento.
O que chama a atenção é a repetição do padrão. É o segundo grande recuo de Tarcísio em menos de dois meses, após a suspensão dos pedágios previstos na Rodovia Luiz de Queiróz (SP-304), também resultado de intensa mobilização de prefeitos e da população de cidades da região. O governador parece ter subestimado o impacto local de decisões com forte apelo técnico, mas repercussão pública negativa. E, com a aproximação do ano eleitoral, está sendo obrigado a recalibrar sua estratégia.
No caso da Fazenda Santa Elisa, preservar a área não é apenas uma questão técnica, mas uma decisão de respeito ao conhecimento científico, à história da agricultura paulista e ao futuro da produção nacional. A própria fala de Tarcísio deixa claro que a ideia de venda ainda permeia outras áreas – a Fazenda Santa Elisa escapa, mas a lista de imóveis públicos “em avaliação” continua aberta.
Politicamente, no entanto, fica evidente que o governo entrou em rota de colisão com setores relevantes da sociedade em temas sensíveis e mal calculados. Com pouco mais de um ano para as eleições de 2026, essa sucessão de recuos, somada à percepção de desgaste em agendas impopulares, pode custar caro a um governo que tem uma sólida liderança estadual, porém existem pretensões nacionais.
No tabuleiro político, Tarcísio perde ao recuar, mas perderia muito mais se insistisse. O governador precisa, a partir de agora, escolher melhor suas batalhas com visão em 2026.
Violência Digital
A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) oficializou a criação da Frente Parlamentar de Combate à Violência em Ambiente Digital contra Crianças e Adolescentes. A iniciativa, de autoria do deputado Rafa Zimbaldi (Cidadania), tem como objetivo acompanhar ações de prevenção a crimes virtuais, colaborar com investigações e apoiar medidas contra o aliciamento de menores pela internet.
Coordenador do grupo, Zimbaldi afirmou que a medida é uma resposta urgente ao aumento de ataques virtuais, estupros digitais, desafios perigosos e recrutamento de jovens por grupos extremistas. O parlamentar citou como exemplo a morte de Sarah Raissa, de 8 anos, que participou do chamado “desafio do desodorante”, viralizado no TikTok. “Quem vamos responsabilizar: o autor do post ou a plataforma?”, questionou o deputado.
A Frente terá como aliada a jornalista Carla Albuquerque, especialista em segurança digital e coordenadora do Instituto Aegis, além da Associação Nacional das Vítimas de Internet (Anvint), do Núcleo de Observação e Análise Digital da Secretaria de Segurança Pública de SP e de juristas especializados como Carolina Di Fillipi e Luciano Santoro.
“Crianças negligenciadas emocionalmente, vítimas de bullying ou com transtornos psicológicos não tratados viram alvos fáceis de conteúdos violentos e aliciadores”, disse Rafa Zimbaldi. Ele afirma que é preciso atuar contra conteúdos mascarados de humor ou liberdade de expressão que disseminam misoginia, automutilação e banalização da violência.
A Frente também terá o apoio de educadores, psicólogos e psiquiatras para tratar a questão de forma multidisciplinar. A proposta é promover ações de regulação, monitoramento, conscientização e responsabilização de plataformas que permitam ou facilitem o o de menores a conteúdos perigosos.
Segurança nas piscinas
A vereadora Debora Palermo (PL) protocolou na Câmara Municipal de Campinas um Projeto de Lei que proíbe o funcionamento de motores de sucção durante o uso de piscinas coletivas e obriga a instalação de dispositivos de proteção nos pontos de sucção. A medida visa prevenir acidentes graves envolvendo usuários desses espaços.
Segundo o texto, a proposta se aplica a piscinas localizadas em clubes, academias, hotéis, pousadas, associações, praças de esportes e condomínios. A parlamentar destaca que a iniciativa busca “resguardar a vida e a integridade física” dos frequentadores, especialmente crianças.
O projeto surge após a repercussão de diversos casos de acidentes com sistemas de sucção, incluindo uma tragédia ocorrida no fim de 2024 em Campinas, quando uma menina de 9 anos morreu ao ter o cabelo sugado por um ralo e ficar submersa na piscina no The Royal Palm Plaza.
“Infelizmente, não são raros os casos de acidentes graves e até fatais causados por sistemas de sucção em piscinas. É fundamental agir com responsabilidade e prevenção”, destacou Debora Palermo.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].