POLÍTICA

Flávio Paradella: O desafio de domar o legislativo

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação/CMC
Presidente da Câmara de Campinas, Luiz Rossini, deve enfrentar embates ideológicos e dificuldades para focar temas estratégicos para a cidade
Presidente da Câmara de Campinas, Luiz Rossini, deve enfrentar embates ideológicos e dificuldades para focar temas estratégicos para a cidade

A Câmara Municipal de Campinas iniciou a nova legislatura com um cenário de debates acirrados e desafios estruturais. O presidente do Legislativo, Luiz Rossini (Republicanos), em entrevista à Jovem Pan Campinas, ressaltou que o fenômeno da “nacionalização municipal” — em que discussões federais dominam a pauta local — deve marcar os próximos meses, especialmente com a proximidade das eleições presidenciais de 2026.

"A tendência é voltar [a polarização], talvez não com a mesma intensidade, mas um grau de polarização, sim. Até por conta das próximas eleições presidenciais, que acabam afetando a discussão no âmbito local", afirmou Rossini, lembrando que o ambiente já ficou tenso recentemente na Casa. "Quando a PGR decidiu iniciar o processo contra Bolsonaro por conta do episódio de 8 de janeiro, houve manifestações da esquerda aplaudindo e, depois, defensores do ex-presidente se contrapondo. O ambiente esquentou."

A preocupação do presidente da Câmara é evitar que esses embates políticos desviem o foco das questões locais. "A gente não pode deixar isso avançar para um estágio de ofensas pessoais. O presidente tem que tentar controlar e manter a discussão dentro dos limites toleráveis, éticos e aceitáveis", disse.

Disputas ideológicas podem ofuscar pautas municipais

Rossini alertou que a polarização pode dificultar debates mais profundos sobre questões essenciais para a cidade. "Muitas vezes, problemas que são necessários discutir, debater e aprofundar, ficam meio que relativizados", avaliou. Segundo ele, esse comportamento já foi evidente na última eleição presidencial, quando o debate programático foi praticamente ignorado. "Era um contra o outro, ficou uma polarização burra, do ponto de vista da política."

O presidente do Legislativo também criticou o impacto das redes sociais nesse cenário. "O duro é que isso reflete o pensamento da população. O que fica depois são os likes, os cortes, que as pessoas continuam reverberando." Apesar disso, ele garantiu que a Casa não pode perder o foco das pautas municipais. "Temos que continuar discutindo os problemas que afetam a população de Campinas."

Projetos prioritários: PIDS e nova sede da Câmara

Entre os temas centrais que devem ser discutidos nos próximos meses, o Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS), em Barão Geraldo, e a possível mudança da sede da Câmara para o Palácio da Justiça são destaques.

Sobre o PIDS, Rossini explicou que o projeto visa adequar a legislação urbanística para permitir o desenvolvimento de um polo de inovação e tecnologia na região. "O conceito desse modelo foi resultado de uma consultoria internacional contratada pela Unicamp, e a Prefeitura entendeu que é importante fazer ajustes na Lei 208 para flexibilizar alguns usos e ocupações", disse. O tema é polêmico e gerou grande debate no ano ado, mas deve avançar na nova legislatura. "Foram realizadas duas audiências públicas e agora a Secretaria de Planejamento está ajustando as emendas para enviar à Câmara."

Já a possível transferência da sede da Câmara do bairro Ponte Preta para o Palácio da Justiça, no Centro, segue em pauta. "Sou um defensor dessa tese", afirmou Rossini. "A Câmara já funcionou lá de 1948 a 1970 e hoje, de acordo com estudos, o espaço comportaria a estrutura do Legislativo." A justificativa principal seria a maior ibilidade da população e a valorização do Legislativo no coração da cidade.

O investimento estimado para a mudança seria de R$ 20 milhões, um valor considerado viável pelo presidente. "Se fôssemos construir uma nova sede, o custo aria de R$ 100 milhões", comparou. Nesta quinta-feira, um novo o foi dado com a transferência do prédio oficializada pelo Governo de São Paulo para a Prefeitura de Campinas.

Licitação do transporte e novatos

Outro tema destacado por Rossini foi a licitação do transporte público, um processo aguardado há anos. "Desde 2015, o modelo atual é considerado irregular pelo Tribunal de Contas. Precisamos resolver isso, e o novo edital prevê critérios mais rígidos para garantir um serviço de melhor qualidade para a população", explicou. A proposta inclui mudanças na remuneração das empresas, que será baseada em indicadores de qualidade, reduzindo os incentivos para descumprimentos contratuais.

O presidente também comentou sobre a atuação de vereadores novatos, como Vini Oliveira, que tem se destacado com fiscalizações amplamente divulgadas nas redes sociais. "As ações de fiscalização são legítimas e necessárias, é função do vereador. Mas a forma como se divulga isso gera questionamentos", ponderou Rossini. Ele destacou o episódio da tentativa de abertura de uma I para investigar irregularidades em um concurso da Rede Mário Gatti, que acabou sendo retirada após esclarecimentos. "Foi um gesto de maturidade dele reconhecer que o momento não era adequado para a I", concluiu.

Com um cenário de debates intensos e grandes desafios estruturais, a Câmara de Campinas inicia sua nova legislatura buscando equilibrar embates políticos com decisões que impactam diretamente a vida da população.

Fundo animal adiado

A Câmara Municipal de Campinas realizou, na noite desta quarta-feira (26), a oitava Reunião Ordinária do ano, mas o principal projeto previsto na pauta, que criaria o Fundo Municipal de Proteção Animal (Fumupa), foi retirado de votação pelo próprio autor, vereador Hebert Ganem (Podemos). A decisão foi tomada para aprimorar o texto antes de ser levado novamente ao plenário.

Com a retirada do projeto, a sessão foi marcada pela aprovação de projetos de denominação de ruas e concessão de honrarias.

O Fumupa tem como objetivo assegurar recursos exclusivos para ações voltadas à proteção e ao bem-estar animal na cidade. A proposta prevê que o fundo financie iniciativas como controle populacional de animais, identificação, apoio a entidades protetoras e campanhas de conscientização sobre guarda responsável.

Uma das principais fontes de arrecadação do fundo será a destinação de multas aplicadas a infratores da legislação de proteção animal, além de recursos de dotações orçamentárias específicas, doações voluntárias e emendas parlamentares.

O vereador Hebert Ganem justificou a retirada do projeto como uma medida para refinar pontos técnicos do texto, garantindo uma proposta mais robusta antes da votação final. “Queremos assegurar que o fundo tenha uma estrutura bem definida e seja eficiente na destinação dos recursos”, explicou.

Ainda não há uma data definida para que o projeto volte a ser pautado no plenário.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].

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