A polêmica envolvendo o processo seletivo da residência médica na Rede Mário Gatti extrapolou os limites da istração municipal e agora ganha contornos políticos na Câmara de Campinas. A suspeita de fraude, que levou a Rede Mário Gatti a suspender os resultados e iniciar uma apuração interna, virou argumento para um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (I), apresentado pelo vereador Vini Oliveira (Cidadania).
O problema? A matemática legislativa não joga a favor do novato. Com uma base governista robusta de 26 vereadores, a instalação da I esbarra na falta de s. São necessárias 11 adesões para que a comissão seja aberta, mas até agora Vini conseguiu apenas seis – somando os apoios da bancada de esquerda, composta por Paolla Miguel (PT), Guida Calixto (PT), Mariana Conti (PSOL), Fernanda Souto (PSOL) e Gustavo Petta (PCdoB), além dele próprio.
A realidade é que a base governista não tem interesse em alimentar uma I sobre um caso que já está sob investigação da própria Rede Mário Gatti, um pedido de apuração que partiu do prefeito Dário Saadi (Republicanos). A Prefeitura, aliás, tratou de responder rapidamente às suspeitas, suspendendo o resultado e determinando uma averiguação. Para a maioria dos vereadores, isso é suficiente – e qualquer tentativa de estender o caso ao parlamento é vista mais como um movimento político do que como uma necessidade real de fiscalização.
Mesmo sem conseguir os apoios necessários, o pedido de I ampliou as dúvidas sobre o concurso. De acordo com a Rádio CBN Campinas, que teve o ao requerimento, o questionamento não se limita às notas idênticas dos cinco primeiros colocados – ele levanta outras possíveis falhas no certame, como:
- Falta de controle na entrada das salas, sem conferência de s dos candidatos;
- Liberdade na escolha de assentos, sem critério de alocação;
- Ausência de fiscalização rigorosa para impedir uso de dispositivos eletrônicos;
- Falta de monitoramento das idas ao banheiro, permitindo possíveis fraudes;
- Nenhuma inspeção com detectores de metais, o que abriria brecha para comunicação externa.
Esses pontos reforçam a pressão sobre a empresa terceirizada Consesp, responsável pela realização da prova, e precisam ser esclarecidos.
Trem intercidades
A Câmara Municipal de Campinas aprovou, nesta quarta-feira (12), a criação da Frente Parlamentar de Acompanhamento à Implantação do Trem Intercidades. A iniciativa, de autoria do vereador Nick Schneider (PL), visa monitorar o desenvolvimento do projeto, especialmente no Eixo Norte, que ligará a capital paulista a Campinas.
A proposta é acompanhar de perto os impactos da obra, principalmente no Centro e na Vila Industrial, onde será construída a estação ferroviária. O vereador destaca a importância da discussão sobre o destino do Complexo Ferroviário e o potencial de crescimento econômico da região.
"Essa obra impactará diretamente Campinas. Precisamos discutir a vocação da Vila Industrial e do Centro, incluindo o aproveitamento dos prédios históricos e a geração de novas oportunidades. A Câmara não pode ficar alheia a essa transformação", afirmou Schneider.
A preocupação com a Vila Industrial faz sentido. O bairro histórico de trabalhadores de Campinas é um museu a céu aberto, porém extremamente degradado e esquecido. A chegada do empreendimento teria um impacto enorme na região, mas é preciso entender como requalificar e convergir o novo com o antigo. O país não tem uma tradição em ter sucesso ou, ao menos, se preocupar com essa transição e aí vivemos de tristes contrastes.
A Frente Parlamentar será presidida pelo próprio vereador e atuará no acompanhamento das etapas do projeto, articulando debates sobre a reestruturação da área e os impactos socioeconômicos da nova ligação ferroviária entre Campinas e São Paulo.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].