COLUNISTA

Reborn: a anti-vida de um bebê sem alma

Por Hugo Evandro Silveira | Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril
| Tempo de leitura: 4 min

"Porque trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente" (Romanos 1.25).

Vivemos um tempo em que o absurdo deixou de ser motivo de alerta para se tornar motivo de aplauso. A chamada "febre dos bebês Reborn" — bonecos hiper-realistas que simulam bebês humanos e são tratados como filhos por adultos — é mais do que uma excentricidade. É um sintoma profundo da falência emocional, espiritual e moral da nossa geração. Em nome do "afeto terapêutico", adultos estão sendo encorajados a trocar fraldas em bebês de silicone, dar mamadeiras a bocas de borracha, afagos a olhos de vidro, chorar e até enfrentar disputas judiciais pelos bonecos sem alma. Mas o que isso revela, de fato, sobre o estado da existência humana?

A Bíblia nos mostra que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26-27), foi feito para relacionamentos reais: com Deus, com o próximo, com o mundo ao redor. Quando essa ordem é rompida, o vazio existencial se instala, e o homem começa a buscar sentido em tudo, menos no Criador. Como disse Paulo em Romanos 1, a humanidade caída "se tornou fútil em seus pensamentos" e ou a "servir à criatura em lugar do Criador" (Rm 1.21-25). O "culto aos bebês Reborn" é uma dessas formas modernas de idolatria: o amor é redirecionado da vida real para uma ilusão confortável, sem risco, sem sacrifício, sem alma e, sobretudo, sem Deus.

Estamos diante de uma geração órfã de sentido. Gente que perdeu a conexão com a realidade, com a vida, com a dor e com a esperança. Por isso, simulam maternidade com bonecos. Substituem filhos de carne e osso por cadáveres de borracha. Realizam chás de bebê para bonecos. Criam certidões, vacinas, escolas fictícias e contratam psicólogos para validar a descompensação. O que antes seria diagnosticado como surto psicótico hoje é celebrado como "acolhimento emocional". Mas isso não é cura — é alienação. É um afago falso no desespero real. É anestesia emocional vendida como consolo. É amor sem reciprocidade. É o faz de conta. Cuidado sem risco. É o útero estéreo da pós-modernidade.

Enquanto esses bonecos ganham berços e enxovais, milhares de crianças reais são abortadas, abandonadas, abusadas e esquecidas. A mesma sociedade que promove o culto aos Reborn marginaliza a maternidade verdadeira. Aplaude o aborto como liberdade, mas se emociona com a maternidade plástica e estéril. Como Isaías profetizou: "Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridão luz, e da luz, escuridão" (Is 5.20).

Não se trata de ignorar o luto, a infertilidade, a improdutividade, o desejo ou a solidão — realidades dolorosas que exigem compaixão. Mas o caminho da solidez existencial não a por encenar a vida com bonecos. a por reconhecer a dor, encará-la com dignidade e maturidade, sem fantasias, sem simulação emocional.

A cultura Reborn é um reflexo direto do colapso espiritual do nosso tempo. Uma geração que idolatra o conforto, foge da dor, rejeita a verdade e vive de aparências. Que prefere o controle de uma maternidade fictícia à entrega sacrificial da maternidade real. Que chora por bonecos, mas mata crianças. Que promove encontros de mães de plástico enquanto crianças reais clamam por amor e abrigo. A verdade é que o bebê Reborn pode ser o símbolo de uma geração que perdeu a conexão com a vida. Jesus havia dito sobre o fim dos tempos: "O amor de muitos se esfriará!" (Mateus 24.12).

Finalmente, o culto aos bebês Reborn não é apenas uma patologia mental — mas uma perturbação espiritual. É o reflexo de um mundo que matou Deus no coração, e agora tenta preencher o vazio com fantasias: Bonecos viram filhos. Animais (dogs and cats) viram gente. Máquinas viram amigos confidenciais. Tudo para evitar o confronto com o que mais assusta: a dor da perda, o peso da ausência, o luto não elaborado, o caos da alma.

A Igreja de Cristo precisa responder a esse tempo com verdade e compaixão. Denunciar o engano, a anti-vida, o útero sem Deus; mas também oferecer o Evangelho como o único consolo verdadeiro. O Cristo ressurreto não oferece bonecos, mas vida real. Não oferece anestesia, mas cura. Não oferece fantasia, mas redenção. E o Espírito Santo, nosso Consolador, é suficiente para preencher o vazio que nenhum boneco, nenhum substituto, nenhum culto moderno pode curar. O mesmo Deus que ressuscita mortos pode ressuscitar corações vazios

IGREJA BATISTA DO ESTORIL - 63 anos atuando Soli Deo Gloria

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