
As pessoas com idade acima de 60 anos deixaram de figurar como as principais inadimplentes no comércio de Bauru. Levantamento realizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Bauru (CDL) revela que o perfil dos que estão com prestações em atraso em lojas da cidade agora é de homens solteiros entre 31 e 40 anos.
"Antes, víamos muitas dívidas em nome de pessoas com mais de 60 anos e percebíamos que elas emprestavam o nome para filhos ou netos. Fizemos campanhas para conscientizar sobre isso. Hoje, vemos que mudou quem realmente está contraindo a dívida (atualmente, homens entre 31 e 40 anos). Não dá para saber se essas pessoas perderam o emprego ou se são consumistas além da própria capacidade financeira", afirma Elion Pontechelle Júnior, diretor jurídico da CDL.
Apesar da mudança, os idosos ainda representam um grupo vulnerável, pois têm o a empréstimos consignados (com parcelas descontadas diretamente da aposentadoria), muitos têm renda fixa limitada em um momento de aumento dos gastos com saúde, por exemplo, embora ainda atuem como apoio financeiro para filhos e netos.
Ainda assim, foram superados pelos homens com até 40 anos. De um universo de 20.449 inadimplentes, 5.387 pertencem a esse grupo, responsáveis por 6.086 registros. Em seguida, aparecem os homens com até 50 anos.
Para o representante da CDL, dois fatores ajudam a explicar a inadimplência: crédito facilitado em excesso e falta de controle financeiro. "Muitos lojistas, no desejo de vender, parcelam sem consultar os serviços de proteção ao crédito. E o consumidor, muitas vezes, paga a primeira, a segunda parcela e depois não paga mais", observa.
DISCIPLINA
Apesar de representarem quase metade dos registros de inadimplência em Bauru, as mulheres demonstram, segundo a CDL, um comportamento mais cauteloso quando o assunto é dívida. De acordo com Elion, o perfil feminino tende a ser mais disciplinado financeiramente: "A mulher, geralmente, gasta apenas o necessário. Já o homem costuma gastar com o supérfluo e não se preocupa tanto em segurar o dinheiro".
Elion também defende que o poder público poderia ter um papel mais ativo na prevenção. "Programas de educação financeira, especialmente nas escolas, ajudariam muito. A pessoa precisa aprender a se policiar", conclui.
Dos 23.235 registros de inadimplência em Bauru, 9.756 são atribuídos a mulheres. Os homens, por sua vez, concentram 10.693 registros. No quesito populacional, as mulheres representam a maioria da população bauruense, segundo dados do IBGE.
VALORES
A maioria dos inadimplentes está associada a dívidas de valor modesto, mas o grosso do prejuízo se concentra em uma pequena parcela dos consumidores. Dos 23.235 registros no banco de dados da CDL, 1.967 referem-se a dívidas acima de R$ 2 mil, o que representa pouco mais de 8%. Juntas, elas somam R$ 16,5 milhões — ou seja, 60% de todo o valor devido. Os dados são referentes ao período entre 16 de maio de 2020 e 16 de maio de 2025 e compreendem o setor de comércio e serviços em Bauru.
Já os débitos entre R$ 100,01 e R$ 500, que representam 48,6% das ocorrências, somam R$ 3,5 milhões, cerca de 12% do total. "São dívidas pequenas, que muitas vezes a pessoa deixa acumular porque não precisa limpar o nome ou não tem condições de fazê-lo", explica Elion Pontechelle Júnior, diretor jurídico da CDL.
CAMPANHA
Para quem tem débitos com comércios e serviços de Bauru, a CDL oferece diversos mutirões de renegociação. "Sempre que a gente faz campanha, as dívidas de até R$ 500 são as que mais geram acordos", explica.
A próxima ação está prevista para o final de junho, com o objetivo de permitir que consumidores entrem em julho — mês das férias escolares — com o nome limpo. "Depois, temos ações antes do Dia dos Pais, da Black Friday e do Natal. A ideia é ajudar o consumidor a voltar a comprar", finaliza.
DEVEDOR X INADIMPLENTE
Inadimplente é a pessoa que não pagou a dívida no prazo combinado e está com pagamentos em atraso, sujeita, inclusive, a ter o nome negativado (nome sujo).
Já devedor é qualquer pessoa que possui uma dívida — ou seja, fez uma compra ou contratou um serviço com pagamento parcelado ou futuro — mas ainda está dentro do prazo de vencimento.