OPINIÃO

Deixamos de ser originais para sermos fotocópias de falsos ídolos

Por Gregório José -Jornalista/radialista/filósofo |
| Tempo de leitura: 2 min

No mundo de hoje, onde as telas brilham mais do que o sol da manhã, algo inquietante tem se desenhado em nossa paisagem social. Uma epidemia silenciosa, mais sutil que a névoa, mas muito mais perigosa. Pessoas deixaram de ser indivíduos para se tornarem ecos.

Vivemos dias em que imitar virou virtude. A autenticidade, antes celebrada como uma joia rara da personalidade humana, foi trocada por curtidas, visualizações e a confortável aprovação da massa. Homens e mulheres caminham pelas ruas, pelas redes e pelas suas próprias vidas como atores de um roteiro que não escreveram — imitando poses, opiniões, gestos e até revoltas.

Turbas se formam com uma velocidade estonteante. Mas o que as move? Muitas vezes, nada. Um comentário mal interpretado, uma manchete tendenciosa ou um trecho recortado fora do contexto é suficiente para acender o pavio de um incêndio moral. E assim, com base em pouca ou nenhuma reflexão, surgem julgadores, justiceiros, executores. Justiça pelas próprias mãos, num tribunal que se forma nos porões da ignorância e do ressentimento.

Seguimos falsos profetas, modernos bezerros de ouro com nomes de usuário e promessas vazias. Influenciadores, políticos, gurus de autoajuda — os tais "coaches" que vendem soluções mágicas para almas fragilizadas. E, entre eles, os falsos religiosos, que ao invés de guiar, exploram. Todos com discursos prontos, frases de impacto e uma legião de seguidores prontos para repetir, aplaudir e consumir.

Esquecemos, talvez, que nascemos únicos. Que a nossa essência não vem com manual de instruções nem com moldes a seguir. Cada ser humano é um projeto original — e como tal, deveria agir, pensar e se expressar.

Mas nesta sociedade de cópias mal-acabadas, ser original virou rebeldia. Questionar virou afronta. Refletir virou atraso. E o que vemos é uma geração que se contenta em parecer, mas não em ser. Que prefere atuar, mas não viver.

É preciso lembrar: autenticidade não se compra, não se aprende num curso online, nem se copia de um perfil verificado.

Ela vem do silêncio do pensar, do incômodo de questionar, da coragem de ser quem se é.

E que cada um de nós, ao nos olharmos no espelho amanhã, enxerguemos mais do que um reflexo: enxerguemos uma alma livre.

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