O recente Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) confirmou que, hoje, três em cada dez brasileiros são analfabetos funcionais. O estudo apresenta dados muito parecidos com os resultados trágicos e conhecidos de 2018.
Somado a isso, vemos também novas pesquisas apontando para a queda dos hábitos de leitura entre os brasileiros. Ou seja, o número de analfabetos continua altíssimo, enquanto a assiduidade de leitura dos alfabetizados está em queda.
E o mundo atual, muito mais complexo que o antigo, ainda tem um agravante: além da tradicional biblioteca física, hoje também precisamos aprender a ler a infinita biblioteca digital - o que envolve muito mais do que apenas palavras.
O filósofo francês Roland Barthes acredita que "o semiólogo deve tratar do mesmo modo a escrita e a imagem" (Mitologias, p. 137). Apesar de os jovens alunos e cidadãos adultos não precisarem se tornar necessariamente intelectuais, semiólogos ou filósofos, é um direito - e uma necessidade, na cibercultura - que todas as pessoas sejam bem alfabetizadas tanto em relação aos textos escritos analógicos quanto aos textos e imagens da internet, que todos tenham letramento digital.
Por isso, o desafio educacional, hoje, especialmente no Brasil, é surpreendentemente complexo. Estamos com visíveis dificuldades para qualificar o ensino do bê-a-bá elementar - nas letras, na literatura clássica, na produção de redações... - e estamos sendo sobrecarregados com novas demandas, especialmente imagéticas, das redes sociais e do mundo fortemente midiatizado.
Barthes sintetiza suas ideias citando uma frase muito usada pela revista sa Paris Match: "Le poids des mots, le choc des photos" - "O peso das palavras, o choque das fotos". Tal é o peso das letras que nós, brasileiros, também estamos tendo dificuldade para carregar; tal é o choque das imagens, especialmente no ciberespaço, que ainda não aprendemos a canalizar criticamente.
Se a educação formal e informal no Brasil não ar por uma verdadeira revolução, continuaremos assistindo a parcelas imensas do nosso povo permanecerem sem olhos letrados para enxergar a sabedoria dos livros impressos de filosofia, história, literatura, ciências... e as novidades da internet, com suas fotos, quadrinhos, filmes, séries...
Manter um povo analfabeto é como manter fechados os olhos de quem poderia ver mais - e melhor - a beleza de si, do outro e da vida.